Alepe leva música e arte à Colônia Penal Feminina do Recife

ITINERANTE – A ação aconteceu dentro das dependências da Colônia Penal Feminina do Recife, localizada no bairro do Engenho do Meio. Fotos: Roberta Guimarães

A edição itinerante do ‘Café com Poesia’, projeto promovido pela Biblioteca da Alepe, trouxe um combinado de alegria, poesia, música, literatura e esperança para as mulheres da Colônia Penal Feminina do Recife, no Engenho do Meio. Enquadradas pelo sistema prisional como pessoas privadas de liberdade (PPL), algumas delas participaram, nesta quarta (20), não apenas como ouvintes do projeto. Atuaram também como protagonistas de suas histórias.

Com o tema “A Alma Feminina Inspira Poesia”, o evento faz parte da programação da Alepe em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de março. A versão itinerante do ‘Café com Poesia’ teve apresentação musical, recital de poesia e literatura de cordel.

As apresentações ficaram a cargo do músico e sanfoneiro Júnior Vieira, da escritora e poetisa Lúcia Costa, do cordelista Cícero Lins e do poeta Jorge Bernardo. O coral Vozes de Pernambuco, formado por funcionários da Alepe, alegrou o ambiente com músicas regionais.

Para a gestora da Colônia Feminina do Recife, Maria Andrea Ferraz, ações como a do ‘Café com Poesia’ são importantes para o processo de ressocialização. “É interessante trazer essa promoção da cultura e do lazer para dentro da unidade prisional. Esse tipo de ação auxilia no processo de ressocialização e faz com que elas se aproximem da nossa realidade e do que acontece fora da unidade prisional”, afirmou.

De acordo com a gerente da Biblioteca da Alepe, Sirlênia Araújo, a ideia de tornar o projeto itinerante visa ampliar o acesso à cultura e à arte de forma gratuita, além de incentivar a população a conhecer o trabalho da Alepe.

“É um momento de alegria, lazer, cultura e troca de conhecimento A arte, a cultura e a poesia transformam a vida das pessoas para melhor”, enfatizou Sirlênia.

MÚSICA – Apresentação do Coral Vozes de Pernambuco durante o Café com Poesia

Depoimentos

Mãe de sete filhos e aguardando julgamento por tráfico de drogas, Andrelane Faustina Ferreira, 39 anos, fez um paralelo entre o momento atual, vivenciado por ela e suas companheiras da unidade prisional, com a história de Dandara, guerreira negra do período colonial do Brasil que viveu no Quilombo dos Palmares lutando por seus ideias e liberdade do seu povo.

“Dandara foi uma figura que lutou por seus ideais, assim como nós que estamos aqui e lutamos pela tão sonhada liberdade”, enfatizou. Para Andrelane, o universo da arte e o da música trazem esperança de um recomeço, principalmente para os encarcerados.

“Estamos presas, mas nossos sonhos não pararam. Estudar e fazer poesia é uma nova forma de ressocializar. Mesmo que aqui seja um lugar difícil, esse projeto abre novos horizontes e nos dá visibilidade. A maioria das pessoas na colônia não é alfabetizada e a escola aqui dentro está dando essa oportunidade”, destacou.

Franciele Raiane dos Santos, 22 anos, encontrou no universo da poesia e dos livros uma forma de tornar seus dias mais leves enquanto aguarda o julgamento por homicídio. “Aprendi com a literatura que a mente da gente fica solta. Só o corpo está preso por atos que acontecem e que estamos respondendo por eles. Toda ação tem uma reação. A literatura influencia em outras coisas, numa conversa melhor, num novo conhecimento. São coisas que não tiram da gente”, enfatizou.

SARAU – As mulheres que se encontram na Colônia Penal Feminina também se apresentaram no Café com Poesia

Café com Poesia

O projeto existe há 18 anos. Foi lançado em 2006 com a proposta de abrir espaço, mensalmente, para recitais, lançamentos de livros, exposições e bate-papo sobre arte e cultura. Ao longo desse período, o projeto já reuniu jovens talentos e veteranos da arte e da literatura.