Marta Almeida é homenageada durante encerramento da 1ª Jornada Antirracista da Alepe
Encerraram-se na manhã desta sexta-feira (10), as atividades da 1ª Jornada Alepe Antirracista 2023. A ação, que marcou as comemorações em torno do Mês da Consciência Negra, teve o objetivo de ampliar o debate sobre o racismo e estimular a construção de pautas afirmativas. Durante a solenidade, além das palestras e apresentações artíticas, aconteceu uma homenagem especial à militante do Movimento Negro Unificado (MNU) Marta Almeida, que faleceu neste ano.
Educadora e coordenadora do MNU em Pernambuco, Marta Carmelita Bezerra de Almeida morreu no último dia 13 de setembro, aos 44 anos, após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral). No Estado, também integrava o Comitê Institucional Metropolitano de Mulheres Negras da Secretaria Estadual da Mulher e o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Coepir/PE). Há uma década, dedicava sua vida às lutas sociais, direito à saúde, à denúncia e combate ao racismo e pela visibilidade das mulheres lésbicas e demais pessoas LGBTQI+.
A deputada Dani Portela (PSOL), lembrou que, nesta semana, a Alepe aprovou a criação da Medalha Antirracista Marta Almeida – comenda especial que será entregue para pessoas ou organizações que se destaquem na luta antirracista. Sete pessoas físicas ou jurídicas com reconhecida atuação no combate ao racismo em Pernambuco poderão receber o prêmio a cada Sessão Legislativa.
“A criação desta premiação foi uma iniciativa coletiva do nosso gabinete, dos deputados Doriel Barros (PT), Rosa Amorim (PT), João Paulo (PT), Socorro Pimentel (União) e da Superintendência Geral da Alepe. Marta Almeida foi uma referência no combate a todas as formas de opressão, contra o racismo e contra a lgbtfobia”, destacou Dani Portela, que pediu uma salva de palmas especial aos familiares da militante.
A deputada Rosa Amorim também prestou uma homenagem à família de Marta Almeida com a entrega de uma placa e de um quadro pintado pelo artista Luiz Amorim. “Martinha carregava no seu coração um ato de amor ao povo. Ela trazia uma revolta no peito e, ao mesmo tempo, entendia a necessidade de que, através da educação popular, a gente pode construir uma nova sociedade”.
Arte e debate
Em seu último dia, a Jornada Alepe Antirracista também contou com as conferências “A importância do combate ao racismo nas instituições políticas e públicas”, ministrada pela professora da UFPE, Ciani das Neves; “Negritude sem identidade”, com o psicanalista Érico Andrade; e “O nosso legado para gerações futuras”, apresentada pelo mestre em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, Zulu Araújo; além das apresentações artísticas do cantor e compositor Afonjah, da multiartista Iyadirê Zidanes e do grupo Bacnaré – Balé de Cultura Negra do Recife.
A mediação do debate ficou sob responsabilidade da deputada Dani Portela. Segundo a parlamentar, o evento foi um marco, mas é preciso que ações sejam recorrentes e não somente neste mês. “Estamos no mês do novembro negro, mas deveríamos combater o racismo e promover a igualdade racial em todos os meses, em todas as épocas”, afirmou. “Já que somos maioria da população, precisamos ser maioria também nos espaços de decisão e poder. Não dá mais para ser invisibilizados e silenciados séculos depois da história”, completou.
Para a conferencista Ciani das Neves, a ação iniciada pela Alepe é de suma importância devido ao seu poder na sociedade. “Trazer esse debate sobre a importância do combate ao racismo no âmbito das instituições e políticas públicas é importante no sentido de que nós estamos massificando a compreensão de que o racismo é um comportamento que precisa ser extirpado da sociedade brasileira”, disse.
O professor Zulu Araújo ressaltou que o legado para as gerações futuras é extremamente positivo. “É o legado que permite que hoje o movimento negro brasileiro, a sociedade brasileira, possa respirar ares mais saudáveis”. Em adição, o conferencista disse que é fundamental a presença e a participação das Casas Legislativas. “Precisamos de uma legislação antirracista, precisamos de atitudes antirracistas e precisamos de políticas públicas antirracistas”, concluiu.
Responsável pela abertura, o cantor e compositor Afonjah comentou como esses eventos auxiliam o futuro. “É uma luta de toda a sociedade pernambucana e do Brasil. Iniciativas como essas são muito importantes para que a gente consiga prosseguir no futuro”, disse.
A multiartista Iyadirê Zidanes disse que tem vontade de que o discurso antirracista deixe de existir. “Meu grande desejo é que o discurso se dissipe não pelo fato de termos tapado os olhos, mas por não precisarmos mais falar desse discurso antirracista porque não existirá mais o processo racista”, finalizou.